Home ] Continuação 1 ] Continuação 2 ] Continuação 3 ] Continuação 4 ] Continuação 5 ] Continuação 6 ] Continuação 7 ] Continuação 8 ] Continuação 9 ] Continuação 10 ] Continuação 11 ] Continuação 12 ] Continuação 13 ] Continuação 14 ] Continuação 15 ] [ Continuação 16 ] Continuação 17 ] Continuação 18 ] Continuação 19 ] Continuação 20 ] Continuação 21 ] Continuação 22 ] Final ]

 


De volta ao lar...

Finalmente, depois de 3000 milhas, sendo 1800 em contra-vento, o Redboy está nas águas de Angra dos Reis novamente! Como não tenho mais testosterona para uma aventura deste tipo, contratei o Átila Bohn, de Salvador, e seu fiel escudeiro, o João José. Eles saíram de Puerto la Cruz, VE no início de dezembro, passaram por Isla Margarita e quando navegavam próximo à Península de Pária foram abordados pela Guarda Costeira Venezuelana. Subiram a bordo com coturnos e metralhadoras, fizeram uma revista no barco, deixaram uma bagunça e foram embora. Mas antes chamaram o João lá prá dentro e mostraram um pacote com um quilo de talco, usado para conserto em fibra de vidro e queriam saber o que era! O policial só se convenceu que era talco depois de experimentar... Depois que eles saíram é que foi dada falta de um relógio de pulso com bússola, barômetro etc e um dinheiro que estavam em uma gaveta...
Mas o pior ainda estava para acontecer: algumas horas depois foram abordados por um barco com cinco homens armados!!! Até parece que foi combinado com a polícia. (Será??????) Aí amarraram os dois na proa enquanto quatro entraram no barco e um ficou cuidando. Resultado: levaram dois motores de pôpa, um Garmin Chartplotter, um arbalete, celulares, roupas de neoprene, lanterna e faca de mergulho, VHF portátil, algum dinheiro, e o mais importante, a minha querida caixa de ferramentas... 
Felizmente o dinheiro estava guardado em vários lugares diferentes e eles não levaram os cartões de crédito, pois o Átila disse que precisava deles pra continuar viagem!!! Quando saíram, depois de desamarrar os dois, jogaram as carteiras deles com os documentos no cokpit.
Deixaram, felizmente, muitas outras coisas de valor, como o rádio SSB, o gerador Honda, furadeiras sem fio, etc e levaram um daqueles quadros decorativos com nós! E um "puxa-saco", daqueles onde se guarda sacolas plásticas! Bom, menos mal, não houve nenhuma violência e o Átila e João só saíram abalados emocionalmente.
Então pararam mais tempo do que o previsto em Trinidad, pois precisavam comprar ferramentas e se recuperar do susto. Aí teve uma boa notícia: havia uma encomenda para o Redboy na alfândega. Era um conjunto completo de instrumentos, deep, speed e wind igual ao que foi instalado oito meses antes lá mesmo. O fabricante deve ter mandado duas vezes a mesma encomenda, pois reclamamos muito do atraso na época. Vou vender no Brasil para recuperar um pouco do prejuízo!
Depois de Trinidad fizeram uma parada em Koureau, para abastecer (usaram mais de 500 horas de motor no total, de Puerto La Cruz até Angra), depois em Luiz Corrêa, já no nosso querido Brasil. Lá substituíram o pêndulo do leme de vento que era de fibra e não agüentou o tranco por um de madeira, muito bem feito, obra de um artesão local.
Tem umas particularidades nesta travessia, próximo ao rio Orinoco e Amazonas que são bem interessantes. A força da maré causa uma correnteza perpendicular à costa que te tira até 20 milhas da rota em poucas horas. Depois de algum tempo eles já estavam craques em tirar proveito deste fato.
Finalmente depois de 1800 milhas contra o vento e corrente, o Cabo Calcanhar! E daí pra frente é morro abaixo! O meu plano inicial era pegar o barco em Salvador, mas como eles já estavam com um bom ritmo, pedi que viessem até Angra, pois queria aproveitar o Carnaval por aqui. Chegaram dia primeiro de fevereiro.
O barco se comportou muito bem, estruturalmente. Nada de importante quebrou.. No motor só foi trocado óleo, filtros, um rotor da água salgada e duas correias em V (com menos de 100 horas de diferença!), mas apareceu um vazamento no túnel do eixo do hélice. Um engate do runner de BB também quebrou. No mais umas panes na parte elétrica e o piloto automático deixou de funcionar logo no início da viagem. Ainda bem que tinha o leme de vento! Considerando a dureza da travessia, acho que foi um saldo muito positivo.

Algumas considerações sobre o Caribe...

Você está pensando em ir com teu barco para o caribe? Pense muito bem antes, porque prá voltar não é fácil.
Se é para conhecer, pegue um avião, desça em Union Island, alugue um veleiro e fique duas semanas curtindo as Granadinas, que são o lugar mais bonito do Caribe. Reserve uma semana para ancorar em Tabago Cays. Você vai ter visto quase tudo o que é interessante. Depois entregue as chaves do barco dê tchauzinho e pegue um avião de volta. Custa caro? Menos do que se manter por lá por mais de um ano, quase dois, que é o tempo que vc precisa para ir e voltar, considerando a temporada de furacões.
O Brasil, principalmente Angra dos Reis, não perde em nada para o Caribe, a não ser a água que não é tão limpa. Mas é muito mais barato, se fala português, o povo é mais bonito e simpático, não tem furacão, se gasta em Reais. Vou voltar pro velho esquema, primeiro semestre no sul, segundo no nordeste...
Outra coisa tão ou mais importante do que o barco, se você ainda não se convenceu e quer ir prá lá: escolha com muuuuito cuidado a tua tripulação. Tem que ser pessoas dispostas a colaborar, a se superar. Que digam: estamos nesta juntos. Se não houver uma história de alguns anos juntos, no caso de casais, é melhor não ir. A vida em comum a bordo não é para qualquer um. Não se iludam.
Falar inglês é fundamental. Do contrário vocês vão ficar à parte da comunidade náutica por lá. Todo mundo fala inglês, até os franceses! Se esperam encontrar brasileiros, são raros e ariscos... Quando um sueco ancora o barco, ele ergue a bandeira da Suécia no topo do mastro. Logo chegam mais um ou dois barcos suecos. Os brasileiros se isolam.
Quando ainda estava em Curitiba pensando nesta viagem, um sujeito que também estava pensando em fazer o mesmo não quis conversar comigo com medo que eu roubasse os patrocinadores dele! Em Fortaleza, antes de que quatro barcos brasileiros saíssem juntos para o Caribe, outro me disse que não gostaria que eu o acompanhasse na travessia pois o projeto dele era diferente do meu!!! Ou então o caso é comigo, sei lá.
Destes quatro barcos que saíram, o único que continuou no plano inicial é o Hipocampus, do Newton, que já deu a volta ao mundo e está de volta na Bahia!!! E era o que parecia ter menos condições, pelo barco, um Samoa 29 feito em casa. Mas o Newton tem uma vontade férrea e humildade suficiente para não cuspir prá cima. Dos outros três, um perdeu o mastro, a namorada e desanimou (eu), outro abalroou um OFNI (Objeto Flutuante Não Identificado) na costa da Flórida e perdeu o barco. Do terceiro (aquele do projeto diferente, da Bahia) não tive mais notícias, mas pelo jeito mudou o projeto dele, pois era para dar a volta ao mundo também...


Carnaval em Angra, de novo... Regata de Caras, de novo...

Quando estava chegando de ônibus em Angra vi o Redboy entrando no porto! Se tivesse combinado não daria certo... Ajudei a pegar os cabos para atracar e ficamos até tarde da noite comentando as peripécias da viagem. Vou pedir para o Átila e o João fazerem um texto sobre a viagem. Se eles toparem vou publicar aqui. Vai ser muito interessante.
No sábado de carnaval chegou a Lilli, o filho e um amigo para passarem o Carnaval. Foram dias ótimos nos velhos lugares de sempre: Abraão, Palmas, Sítio Forte... Êta saudade!
Depois que eles foram embora, tirei o barco da água para consertar o túnel do eixo do hélice. Trabalho rápido, em dois dias estava na água de novo. Tinha pensado em pintar o fundo também, mas estava ainda muito bom. Vou deixar para mais tarde, aí pinto também o costado. O barco foi tirado na marina Velrome, caríssima. Sugiro pesquisarem outras opções aqui por Angra...
Estou escrevendo isto na sexta, 18/2/2005. Hoje chega meu filho para participarmos da Regata de Caras, sábado, juntamente com outros amigos, Mario e Manolo. Vai ser o barco dos quatro M: Mario, Mario, Mario e Manolo. Tá faltando uma Marlene...

Retorna     Continua